SETOR DE ENDOCRINOLOGIA



Veja por que você deve fugir das dietas da moda

É importante não se deixar levar pelas tentações de perder peso rápido com alimentação pobre em nutrientes e minerais

Caderno Bem Viver - Zulmira Furbino - Dezembro / 2015


Num mundo cada vez mais ligado à estética corporal, e no qual ser magro é tudo, as dietas da moda, em geral adotadas por famosos, se multiplicam e são cada vez mais seguidas por pessoas comuns. Os nomes são vários e as técnicas, idem. Dieta master cleanse, sem glúten, do tipo sanguíneo, sem lactose, da proteína, de carboidrato zero, da papinha de bebê, do veganismo temporário... Afinal, qual funciona realmente e qual delas é a melhor? De acordo com o endocrinologista Geraldo Santana, diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia, existem duas dietas principais, que têm comprovação científica: a hipocalórica e as de restrição de carboidratos. Segundo ele, mais do que simplesmente emagrecer, é importante que a dieta não cause desnutrição.


“Dietas muito hipocalóricas ou com restrição radical de carboidratos são difíceis de ser mantidas a médio prazo ou pelo menos até alcançar o peso desejado. Outras podem até emagrecer, mas se forem muito radicais é difícil mantê-las. Elas oferecem riscos, como a dieta do tipo master cleanse (basicamente líquida) e da papinha, que são muito restritivas e podem levar a carência de proteínas e alguns minerais”, explica. Dietas basicamente líquidas, observa o especialista, atualmente são indicadas apenas na fase pós-operatória de cirurgia bariátrica. A do grupo sanguíneo, cuja moda já passou, está baseada em premissas que nunca foram comprovadas. Por outro lado, segundo o endocrinologista, reduzir carboidratos é geralmente eficiente para a perda de peso.


Embora essas dietas sejam diferentes entre si, alguns princípios podem ser usados em ambas para potencializar os resultados. Quando se opta pela dieta hipocalórica, também é recomendável evitar o exagero nos carboidratos de absorção rápida, pois o excesso de insulina prejudica o emagrecimento. Na dieta com restrição de carboidratos, o ideal é tentar restringir os alimentos muito calóricos, considerando que, com a reintrodução gradativa de carboidratos, esse tipo de alimento deverá ser evitado. “A médio prazo, e sobretudo na fase de manutenção, os dois tipos de dieta tendem a convergir para uma alimentação variada, com redução de carboidratos simples, quantidade moderada de calorias, preferência para vegetais, frutas, carnes e laticínios magros. Sempre que possível, devem ser incluídos na dieta alimentos funcionais de acordo com as particularidades clínicas de cada pessoa”, diz o médico.


Para a nutricionista Caroline Fernandes, os riscos de mergulhar nesse tipo de regime são grandes

ESTILO DE VIDA
O nutricionista do esporte Marcus Ávila explica que dietas da moda, em geral são estratégias de emagrecimento que nem sempre têm base científica para se sustentar. De acordo com ele, que trabalha com a dieta de nutrientes, criada para atender atletas, mas que também pode ser feita por pessoas comuns, os profissionais sérios não costumam embarcar nas fórmulas mágicas para emagrecer. “Vejo isso mais como uma oportunidade de ganhar dinheiro do que como dietas cientificamente viáveis”, avisa. De acordo com ele, planos alimentares devem ser um projeto de longo prazo, transformando-se num estilo de vida. A empresária Margareth Linhares Moura, de 52 anos, perdeu 33 quilos desde que começou a fazer uma dieta com restrição de carboidratos (arroz, batata, pães, massas e todo tipo de alimentos com farinha e açúcar), em setembro do ano passado.


Sua relação com a balança sempre foi do tipo sanfona. Há 15 anos, fez uma dieta parecida com a de agora e conseguiu emagrecer 25 quilos. O problema é que nos 10 anos seguintes, ela recuperou o peso que havia perdido e ganhou outros 25kg. Depois disso, voltou a fazer dietas “normais”, mas não conseguiu emagrecer outra vez. Então, partiu para pesquisas na internet e fez “umas dietas doidas”, como ela mesma define, com as quais perdeu 15kg, que foram facilmente recuperados. Foi aí que decidiu procurar um endocrinologista.


“Depois de um ano fazendo a dieta indicada pelo médico, estou trabalhando minha cabeça para que essa nova alimentação venha a ser uma mudança de estilo de vida.” A empresária diz que agora está consciente de que os carboidratos não podem mais fazer parte da minha dieta ou voltarei a engordar. Hoje, ela se alimenta basicamente de proteína e diz que come de tudo, sem passar fome. Têm sinal verde em sua dieta alimentos como ovos, queijos, requeijão, creme de leite e carnes, verduras, legumes (com exceção de batata e mandioca), e frutas silvestres (estão de fora maçã, banana, laranja e leite in natura). “Meu café da manhã é um omelete, no intervalo como morango com creme de leite, ou damasco. No almoço, a quantidade não importa. Como até ficar satisfeita, porém sem o carboidrato.” Dona de um bufê infantil, Margareth convive diariamente com as tentações, mas resiste bravamente. “Meu médico me deu todas as ferramentas. Se eu não usar, elas não adiantam nada”, resume.


Marcus Ávila, nutricionista do esporte, diz que profissionais sérios não costumam embarcar nas fórmulas mágicas para emagrecer

Na dieta de nutrientes, o foco é fornecer a quantidade de nutrientes que o organismo necessita, dosando os próprios nutrientes, as gorduras e as proteínas de acordo com o peso de cada pessoa. “A ideia é fornecer a quantidade precisa de nutrientes, pensando na qualidade dos alimentos e fugindo do foco da proteína. A quantidade de calorias é secundária”, explica Márcus Ávila. Dessa forma, com orientação de um profissional, uma pessoa consegue controlar o peso, emagrecer, reduzir o colesterol e até ganhar massa muscular, já que seu corpo vai receber aquilo que precisa, de acordo com os objetivos diferentes de cada um. A quantidade a ser ingerida vai depender dos alimentos que serão escolhidos. “A ideia é não sentir fome, como em geral ocorre com uma dieta de calorias. Pode-se ingerir alimentos com menos carboidratos e mais nutrientes. Fica muito difícil sentir fome”, garante.


Para a nutricionista Caroline Fernandes, como as pessoas estão cada vez mais interessadas em ficar magras, os riscos de mergulhar numa dieta da moda que traz malefícios á saúde é grande. Mas a tendência, segundo ela, na era pós-genoma, é que a nutrição seja cada vez mais personalizada, atendendo a necessidades individuais. “A dieta pode influenciar inclusive a estrutura do DNA das pessoas. No futuro, haverá dietas específicas para cada DNA, já que cada um responde de maneira diferente a determinados nutrientes. Hoje, a gente já consegue individualizar, trabalhando com o conceito de volta ao passado no sentido de adotar uma alimentação mais saudável, livre de alimentos industrializados, sempre de acordo com as características de cada um.” A nutricionista afirma que já é possível fazer prevenção de doenças como o câncer de mama durante a gestação por meio da alimentação.


Opte por um dos tipos abaixo


Dietas de redução de calorias
Também chamadas de hipocalóricas, partem do princípio de que se ingerirmos menos calorias do que necessitamos, nosso organismo utilizará as calorias estocadas na forma de gordura e assim começará a emagrecer. Nesse tipo de dieta, pode se comer de tudo desde que em quantidade controlada com o objetivo de criar um balanço energético negativo. Para que possamos mensurar estas duas variáveis – necessidade do corpo e consumo calórico – dois recursos podem ser muito úteis para orientar o profissional e o paciente: o exame de calorimetria indireta e o diário de calorias preenchido pelo paciente. Uma das vantagens dessa dieta é que excessos eventuais de calorias podem ser compensados com dias mais controlados, mantendo um equilíbrio na média de consumo semanal.


Dietas com restrição de carboidratos
Promovem o emagrecimento porque, na ausência de carboidratos, ocorre uma redução significativa da produção de insulina, impedindo a formação de gordura. Sem carboidratos, o organismo aprende a usar rapidamente os estoques de gordura para a produção da glicose necessária às funções vitais. Dessa forma, o que mais importa não são as calorias dos alimentos, mas sim, a quantidade de carboidratos em cada alimento. Para alcançar esse estado de redução drástica da produção de insulina, também chamada de cetose benigna, devem ser suspensos os alimentos com alto teor de carboidratos de absorção rápida como pães, açúcar, arroz, leite, doces, farináceos etc. As vantagens dessa dieta são a quantidade livre de alimentos permitidos e a redução do apetite proporcionado pela cetose.




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